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Para a UEPG, racismo não há, ou não conta

01/12/2013 às 12:12

por Luis Fernando Cerri

A recente decisão do Conselho Universitário da UEPG em extinguir as cotas para negros, ao mesmo tempo em que manteve (reduzindo) as cotas para alunos de escola pública, indica que a decisão foi pautada por uma leitura redondamente equivocada sobre as relações raciais no Brasil. Explico-me. A aceitação de cotas para escola pública indica que o egrégio conselho aceita a tese de que, no acesso à universidade, é legítimo agir no sentido de equilibrar a disputa, já que ter estudado em escola pública é um fator que tende a diminuir as chances do candidato, embora não tenha nada que ver com sua inteligência. Essa tese foi provada ao longo desses oito anos, em que a média dos alunos da escola pública é sempre mais baixa que a dos alunos de escola privada no vestibular, mas essa diferença se desvanece no primeiro ano de curso dos aprovados.
A decisão contra as cotas para negros ao mesmo tempo em que se mantém as cotas para escola pública significa, para os conselheiros vitoriosos na votação, que ser negro não é fator que desequilibre a disputa contra as chances do aluno negro. Eles partem de uma tese que se não é ignorante, é hipócrita: “o negro tem a mesma inteligência que o branco”. Ninguém duvida disso. Mas não é de inteligência que se trata, e sim de condições. Senão, como explicar que a média das notas dos candidatos negros seja mais baixa que a dos não-negros nos vestibulares da UEPG? Gostaria de conhecer a resposta desses colegas.
O fato é que a pesquisa em educação tem demonstrado que não só o racismo é uma constante que permanece na sociedade atual, como é, sim, um fator que prejudica o aprendizado da criança negra, acuada entre a discriminação explícita ou velada dos seus coleguinhas e a indiferença ou hostilidade velada de professores. Muitos cotistas negros relatam que encontraram isso mesmo dentro da UEPG! Ao contrário do que querem crer aqueles conselheiros, esta é a discriminação, entre tantas outras, que mais causa prejuízo aos que a sofrem, pois é histórica, plurissecular, e que praticamente grita nas estatísticas sociais e educacionais. Mas para quem está empenhado em não ver, nada disso existe, e a discriminação racial tão grave em nossa sociedade, acaba banalizada como se fosse inocente brincadeira de criança.
Com essa decisão equivocada, o atual Conselho Universitário mostrou todo o ranço reacionário que o tomou, expôs a UEPG ao ridículo no âmbito acadêmico brasileiro (que sabe que há racismo e que ele conta, também nas relações educativas) e sagrou uma instituição que já esteve entre as pioneiras do rumo certo, como uma vanguarda da contramão da história universitária brasileira. A comunidade da UEPG não pode conviver com essa decisão senão com profunda vergonha.