PROPOSTA PARA O COU DE 27/04: PELA MANUTENÇÃO DA SUSPENSÃO DO CALENDÁRIO

26/04/2020 às 04:04

Prezadas/os membros do Conselho Universitário,

A direção da Seção Sindical dos Docentes da Universidade Estadual de Ponta Grossa – SINDUEPG/ANDES, vem, por meio deste, conclamar aos membros deste Conselho Universitário que considerem, neste momento, a manutenção da suspensão do calendário acadêmico, tendo em vista a gravidade da pandemia que temos vivenciado não só em nosso país, mas em todas as partes do mundo.

A suspensão das atividades acadêmicas, que está em conformidade com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma forma de contribuir para evitar que a propagação do vírus seja ainda maior. A crise humanitária que vivemos, por seu caráter inédito, coloca a todos nós uma dificuldade: como enfrentar esse problema. No caso específico da Educação, alguns, na ânsia por encontrar uma solução para “não se perder” o semestre ou o ano letivo (o que é preocupação de professores, estudantes e suas famílias), têm defendido que as aulas presenciais sejam substituídas por aulas no formato EaD ou outros modos de ensino remoto. Precisamos tomar cuidado para que essa “possível solução” não seja uma forma de criar novos problemas.

Substituir a educação presencial pela EaD e afins, nos moldes que está sendo defendido por parcela das instituições de educação (desde a Educação Básica à Educação Superior), para tentar minimizar os impactos de uma crise sem precedentes, é uma “possível solução” imediatista, que coloca a atividade educativa na esfera do improviso. Contudo, educação não se faz com improviso! O ensino, todos sabemos, requer planejamento e conhecimento sobre o que se ensina, em condições objetivas e subjetivas adequadas; o que sabemos não serão garantidas numa conversão repentina de cursos presenciais para a modalidade a distância. Os meios que o/a professor/a utiliza para ensinar são selecionados por ele/a a partir das finalidades que se quer atingir. Nesse sentido, há que se considerar:

a) diferentes tipos de tecnologias, como a plataforma Moodle, são meios que poderiam ser utilizados pelos docentes, mas, para tanto, além de necessitarem de infraestrutura, requerem que o professor saiba utilizar adequadamente tais “meios” e os utilize quando entender que este é um meio adequado para atingir o objetivo que ele planejou. Ou seja, esse meio não deve ser utilizado de forma improvisada/imediatista.

b) Para se trabalhar com EaD e afins, além de conhecimento e formação adequada, é preciso se garantir as condições estruturais (equipamentos eletrônicos, como PC e notebooks; internet de boa qualidade; ambientes adequados; dentre outras). Sobre isso, tem de se levar em conta no mínimo dois aspectos: (1) todos os estudantes da instituição têm as condições estruturais necessárias? (2) todos os docentes possuem essas condições no âmbito dos seus lares?

c) Se parcela (mesmo que pequena) dos estudantes não possuírem as condições necessárias para poderem acompanhar atividades EaD e a universidade adotar a substituição de aulas presenciais por aulas a distância, estar-se-á não só ferindo o direito dos estudantes, mas aprofundando a desigualdade presente no sistema de ensino e na sociedade.

Os professores, nessa situação, teriam de custear os equipamentos e serviços (internet de boa qualidade, por exemplo) a serem utilizados; além da sobrecarga de trabalhos a que estariam expostos num momento em que a maioria das pessoas se encontra em situação de fragilidade emocional, o que retoma a questão das condições subjetivas do ensino, que devem ser consideradas tanto quanto as condições objetivas mencionadas.

Professoras e professores, em situação de normalidade, desenvolvem suas atividades docentes em condições muito diferentes das que precisam se submeter agora: muita/o/s de nós, em casa, precisamos dar conta de atividades de trabalho, além de cozinhar, limpar, lavar, cuidar de si e de outros. Muitos dos estudantes também estão passando por situações idênticas, talvez em condições mais precárias do que temos conhecimento. Como transferir aulas que são planejadas para serem presenciais para Ead ou, indo além, como converter currículos presenciais rigorosa e coletivamente construídos por docentes e discentes, ao longo de meses ou mesmo anos, para EaD?

Tudo o que não conseguiremos, na atual circunstância, é viver em situação de normalidade.

O momento que vivemos pede que cuidemos de nós e dos outros. Precisamos proteger as nossas vidas, das nossas famílias e dos nossos estudantes, sem que neste meio tempo cedamos a medidas imediatistas e que podem não só agravar o quadro atual, mas também criar/aprofundar problemas institucionais e sociais futuros que podemos evitar agora. Quando pudermos voltar às salas de aulas, teremos condições de pensar e discutir, coletivamente, como reorganizar o calendário acadêmico.

Aulas podem ser repostas, vidas não!

Pela VIDA, manutenção da suspensão do calendário acadêmico!

Diretoria SINDUEPG – Luta Docente!

Ponta Grossa, 26 de abril de 2020.