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DEBATE PROMOVIDO PELO SINDUEPG DESTACA IMPACTOS DO ENSINO REMOTO NA UNIVERSIDADE PÚBLICA

11/09/2020 às 04:09


O ensino remoto na Universidade Pública e os impactos da implementação para estudantes, docentes e agentes foi o tema da live que o Sindicato dos Docentes da UEPG (SINDUEPG), seção sindical do Andes-SN, realizou nesta quinta-feira, 10, pela página da entidade no Facebook (facebook.com/sinduepg). O evento virtual teve apoio da Associação de Pós-Graduandos da UEPG (APG-UEPG), do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e do Sindicato de Técnicos e Professores da UEPG (SINTESPO). A live na íntegra está disponível na página do SINDUEPG e pelo link https://www.facebook.com/watch/?v=753624935212952&extid=Ulv4F7L6VJrX4LOU.

“É justamente nesse contexto de isolamento social, causado por uma pandemia, que temos sofrido severos ataques à educação pública e ao próprio funcionalismo em geral”, diz a presidente do SINDUEPG e mediadora do encontro virtual, Maria Julieta Weber. “É fundamental, necessário e urgente pensarmos essa temática de forma a salientar a extrema relevância social das Universidades Públicas no combate à desigualdade social e escolar e, por consequência, universitária”, ressalta ao dar início às atividades.

“Eu considero uma grande alegria poder conversar com os companheiros e pôr em debate uma questão tão grave, que terá repercussões inimagináveis sobre a formação do brasileiro, humana, da população, da classe trabalhadora. Estamos diante de um dilema e não sei se estamos dando conta, no aspecto mais geral, desta gravidade”, diz a painelista professora Olinda Evangelista. “Esse momento de luta exige um grande empenho da nossa parte, um engajamento dos professores, dos estudantes, dos técnicos administrativos, e um posicionamento contra as atividades remotas”, defende.

“Quando se fala no ensino remoto no ensino superior temos que ter princípios básicos, aliados a um princípio elementar para ser observado, que é a garantia padrão de qualidade”, diz o assessor jurídico do SINDUEPG, Paulo Eduardo Rodrigues. “Isso inclui o interesse dos estudantes, não podemos esquecer que o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito subjetivo público dos indivíduos estudantes”, destaca. “O ensino remoto restringe direitos previstos na nossa constituição, porque, naturalmente, apesar de todos os esforços feitos para sua melhor implementação, ele restringe, não soma. A probabilidade de um risco de exclusão é muito mais presente no ensino remoto do que no ensino presencial”, afirma.

“É preciso haver também a devida capacitação dos professores e treinamento para trabalhar com essa modalidade excepcional. A categoria docente não é, na sua maioria, especializada em ensino a distância (EAD) ou ensino remoto. Nem todos têm formação nessa área, temos que olhar para o conjunto”, destaca o assessor.

“O princípio basilar no ensino remoto também é evitar a sobrecarga de trabalho docente, tanto para professores temporários, como para os professores efetivos, de acordo com seu regime de trabalho”, defende o advogado. “A jornada e o desempenho de atividades pedagógicas e administrativas devem ser realizados observando a sua jornada de trabalho, não pode haver extrapolamento”, afirma. “É importante destacar que não é porque o professor universitário tem dedicação exclusiva que ele não tem limite de jornada. O que for acima da jornada da qual está submetido, o professor tem direito às horas extras”, explica. “Não é só o direito de se cobrar a hora extra, é a questão da sobrecarga de trabalho, o desgaste físico e mental deste professor. Isso vai acabar ensejando no afastamento por doença. É uma questão a ser observada e avaliada pelo professor sobre o impacto do ensino remoto no seu cotidiano”, acrescenta.

“Não podemos esquecer do desgaste dos estudantes. Muitos assumiram muitas responsabilidades que não tinham antes. Todo mundo tem que dar um jeito ou tentar, mas todos estão esgotados”, assinala a estudante Beatriz Quast, que foi convidada a representar o DCE no debate. “A saúde mental não existe mais e as taxas de desistência só tendem a crescer. Todo mundo tem um colega que trancou o curso ou que fala que não tem mais como seguir”, comenta, contextualizando sobre a situação dos estudantes. “A imposição do ensino remoto vai trazer problemas em nossa formação muito mais profundos que poderíamos imaginar”, diz.

“Nós fomos postos dentro de uma armadilha gigantesca com muitas facetas”, comenta a professora Olinda Evangelista. Ela lista o que chama de “armadilhas” da adesão ao ensino remoto nas Universidades Públicas, que são: impacto na relação conteúdo / método no processo de ensino aprendizagem; alteração na concepção de aula, portanto na relação de ensino aprendizagem; impacto nos vários níveis de ensino, algumas questões próprias da educação básica e algumas do ensino superior; alteração da lógica econômica dentro da Universidade; alteração das relações de trabalho; caráter indutor das atividades remotas; e despolitização das atividades remotas.

“As armadilhas são absolutamente relacionadas, são parte de um mesmo movimento, com seus vários desdobramentos. Todas estão envolvidas na formação humana, que é, em princípio, a tarefa das escolas em qualquer nível”, diz a professora. “Portanto, qualquer uma dessas armadilhas diz respeito, necessariamente, às outras e diz respeito a uma pergunta que a gente precisa fazer, que antecede nosso trabalho, que é “Qual sociedade que eu estou construindo quando faço esta adesão às atividades remotas?” e a segunda pergunta é “Qual é o sujeito que estou formando quando faço essa adesão?””, explica.

“A questão do método de ensino passa a ser reduzida a mera questão de técnica. Como se a diferença entre presencial e remoto fosse apenas a introdução do artifício virtual”, diz. “Essa espécie de fetichismo tecnológico, reduzido a simples método de ensino, é altamente problemática na discussão da relação conteúdo / método na educação, porque desconsidera que na produção desta relação há também, simultaneamente, produção de conhecimento e de pensamento. De tal maneira, que o próprio conteúdo pode ser inteiramente destituído deste lugar”, assinala.

“Tive acesso a um questionário que foi feito em abril pelo DCE sobre as possibilidades de termos ensino remoto e como os estudantes se encontrariam nisso. Foram 2596 respostas e uma das perguntas tratava se o estudante tinha condições de se adaptar às aulas remotas, por questão de ter um espaço que propiciasse concentração e uma rotina de estudos. Foram quase 800 estudantes que falaram que não teriam como se adaptar”, conta a estudante Beatriz Quast. “A pandemia no todo já está mostrando muitas desigualdades, mas as aulas remotas escancaram a desigualdade de uma maneira que talvez a gente nem parasse para pensar muito antes”, diz. “É muito fácil pensar que é possível comprar um celular, um notebook ou dados móveis para um aluno que não tem acesso. Mas em que condições? A gente sabe que muitos estudantes também assumiram muitas responsabilidades que não tinham antes”, acrescenta.

“O ensino remoto tem evidenciado ainda mais a profunda desigualdade existente na educação brasileira e, no caso específico da pós-graduação, uma desigualdade que não estava aparente ao público em um contexto de normalidade”, afirma o representante da Associação de Pós-Graduandos (APG), Gregory Rolim. “Nós enquanto pesquisadores, pós-graduandos, que já enfrentamos problemas em relação à estrutura e financiamento à Ciência e Tecnologia, agora no contexto de pandemia temos somado a isso as dificuldades de aliar as demandas da pesquisa ou da produção de conhecimento em relação às nossas demandas familiares e domésticas. Sem contar, é claro, os problemas de questão psicológica que têm sido bem complicados”, conta.

“O modelo de ensino remoto tem surgido como justificável para um projeto de ensino e de pesquisa que temos no país. Acredito que futuramente não será nada surpreendente se para todos os problemas enfrentados pela educação, principalmente a pós-graduação, a solução a isso seja a implementação do ensino remoto por parte do estado”, comenta Gregory.

“A minha crítica não é uma questão meramente favorável ou contrária ao ensino remoto. É muito mais ampla e complexa sobre isso. Talvez o ponto principal seja questionar como as instituições, em seus órgãos diretivos, pró-reitorias, estão percebendo essa concepção de ensino remoto e qual o objetivo, o que pretendem atender. Principalmente, avaliar os impactos dessa proposta de ensino”, analisa.